A relação entre os portugueses e o mar é uma que não precisa de apresentação. Ao longo de séculos, a costa do País foi marca de identidade. Serviu de ponto de partida para outras terras, de suporte da economia e, inevitavelmente, tomou parte considerável da nossa alimentação.
Não deixa por isso de ser curioso que a nossa relação com as algas fosse mais de ignorar do que saborear — pelo menos até se terem popularizado cada vez mais opções da cozinha asiática. Ainda assim, as algas já chegam à mesa portuguesa há mais tempo do que imagina. E é bem provável que venham a fazer, cada vez mais. É essa a aposta da Wissi, marca portuguesa que surgiu este ano e que está empenhada em mostra que as algas têm muito mais potencial do que boa parte das pessoas imaginas. E para que tal aconteça, a qualidade e o saber são ingredientes essenciais.
“Sempre tive o sonho de ter uma empresa”, conta à NiT Diogo Lopes, responsável pela Wissi. “Sou surfista, sempre fui muito ligado ao mar e há cerca de dois anos, depois de 22 anos numa multinacional, vi-me confrontado com uma situação de desemprego. E decidi lutar para pôr o tal sonho em prática. Um dia estava a surfar no Guincho e quando sai da água tinha o fato cheio de algas e achei aquilo curioso”, recorda. “Eu já tinha há muito este lado de alimentação saudável”. Chegara a altura de lhe dar outro sentido. Nascia assim entre as ondas a ideia que viria a inspirar a Wissi, a empresa que abriu com a mulher.
Demorou o seu tempo até aqui chegar. No início de 2019 começou a tratar de licenciamentos e da candidatura a um fundo europeu, que seria aprovado. Foi também procurando pelo espaço certo para o negócio e a forma ideal de montar a cadeia logística. A pandemia lá trouxe uns inevitáveis atrasos, nomeadamente com a chegada de material, mas a Wissi continuou a navegar até chegar a nós. Em janeiro deste ano começou a chegar ao mercado.
Portugal, já o dissemos, não precisa de apresentações ao mar. Mas as algas nem sempre fizeram parte do prato. Diogo Lopes conta-nos que o País tem uma grande variação em algas. “A questão é que a partir dos anos 1960 e 1970 desapareceram. Mas a génese deste projeto começou mesmo a visitar as lotas e os pescadores portugueses e diziam-me que já os avós e bisavós também apanhavam algas e comiam”.
À sua maneira, explica, “isto também é uma coisa muito nossa”. “A alga tem muita riqueza nutricional e uma textura única, o que a torna muito apetecível. Ainda é desconhecida [à mesa] mas o meu objetivo também é democratizá-la”, destaca. E isso faz-se explicando os benefícios que a alga pode ter à mesa mas também defendendo-a. Este é um dos lados essenciais do projeto.
“Temos que respeitar o ciclo da planta e os ecossistemas”, explica Diogo Lopes, salientando a diversidade e importância destes “legumes do mar”, como lhe chamam, na nossa Costa Atlântica, onde as algas da Wissi são recolhidas. O processo de recolha é, por isso, bastante sustentável e nada industrial.
A apanha das algas é feita por mergulhadores que sabem o que fazem. “Isto é um ciclo. Há vários tipos de alga e com diferentes aplicabilidades, com diferentes períodos de crescimento. A apanha tem de ser feita de forma cuidada, não pode ser arrancada, daí trabalhar com pessoas credenciadas. É um projeto pessoal que me dá também muito orgulho”, confessa.
O processo da apanha é árduo, é feito em profundidade e pode demorar cinco a seis horas. “As algas são apanhadas em mar subaquático, são transportadas para a lota em transporte refrigerado e chegam à nossa unidade onde são selecionadas, depois temos duas gamas, ou é embalada logo fresca ou seca a baixa temperatura, para manter a qualidade do produto”, explica, realçando que a fresca está pronta a ser comida, já a seca tem de ser demolhada mas tem uma durabilidade que pode ir até dois anos, se devidamente conservada. “Depois é uma confeção normal como qualquer outro vegetal”.
Vamos então ao mais importante: como é isto no prato? As algas são muito mais versáteis do que imaginamos. Nesta fase os produtos da Wissi já se encontram em algumas mercearias e cadeias de supermercado. Há também todo um site disponível onde encontra não só diferentes algas mas também o que fazer com elas.
Há smoothies e chás como sugestões mais óbvias mas a vantagem aqui é poder trabalhar diferentes algas como fazemos com tantos outros vegetais. Podem funcionar numa sopa, numa salada, em quiches ou num taboule. Podem ser trabalhadas num arroz ou num risotto. Podem juntar-se a um guisado de vitela ou a um prato de bacalhau. Tanto podem ser um dos acompanhamentos fortes de um prato ou servirem como um toque nutritivo extra num empratamento mais delicado. “É um mundo”, destaca. Com a vantagem de serem nutritivas e de baixo valor calórico.
As algas marinhas são alcanizantes e ricas em nutrientes e minerais que contribuem para melhorar a saúde óssea e a tensão arterial. São também apreciadas pelos eefeitos positivos na pele ou unhas, no bom funcionamento renal e, podem saciar sem serem um alimento pesado, podem dar até uma ajuda em quem procura controlar melhor o peso.
O próprio Diogo Lopes tem descoberto nestes últimos anos o potencial do alimento. “Isto é algo que a comunidade macrobiótica e vegan valoriza muito pelas suas características, a alga em si é também um regulador do organismo. Aliás, a vida começou com as algas”. As pessoas, acrescenta ainda, “estão muito habituadas a vegetais, mas não pensam no marinho”. E este está aqui, no nosso Atlântico.
“Sou uma pessoa super adepta de novidades e este alimento também consegue agregar isso. Obviamente que sou suspeito”, brinca o sócio fundador da Wissi, “hoje em minha casa somos consumidores” mas o plano é que com o tempo passe a fazer cada vez mais opção de qualquer cesto de compras.
No site encontramos opções simples para quem quer experimentar, como algas aromáticas (3,50€), algas kombu ou alface do mar (ambas a 5,50€). Depois há packs com diferentes embalagens e frascos para quem já tem mais planos para explorar as algas. E estes packs nesta altura vêm com 5 por cento de desconto e são também um pequeno cartão de apresentação da nossa costa Atlântica: há opções do Guincho (28,97€) ou Ericeira (22,33€), da Nazaré (24,23€) ou Moledo (23,75€), entre outros. Os pagamentos podem ser feitos por referência multibanco ou MBWay.
Há muito que já sabemos as aplicações que as algas podem ter na cosmética ou indústria farmacêutica. Mas a aposta da Wissi é mesmo que a comecemos a ver cada vez mais à mesa. Depois como hão-de ser servidas, isso já é ao gosto de cada um. A parte positiva é que há mesmo muitas opções à escolha. E como em gastronomia não devemos nada aos melhores, não há nada como explorar e ver o que se pode fazer com estas algas à portuguesa.
Fonte: Nit